Oficina de alimentação complementar une a ciência com a cozinha

Muito além da teoria, o projeto do curso de Nutrição da UFPR leva mães, pais, alunos e professores para a prática na preparação dos alimentos

Por: Luisa Mainardes

Edição: Ana Salles

A alimentação saudável é um objetivo comum no dia a dia, seja por recomendação médica, vontade própria ou preocupações estéticas. Mães e pais — sobretudo os de primeira viagem — são de longe os mais preocupados em como alimentar os seus filhos. Pensando nesse conflito, a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Cláudia Choma realiza há 8 anos uma oficina para mães e pais interessados em construir hábitos saudáveis em suas cozinhas.

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A oficina foi ganhadora do prêmio Josué de Castro no XII Encontro Nacional de Aleitamento Materno e Alimentação Complementar em 2012. Foto: Luísa Mainardes

“A alimentação faz parte do estilo de vida. Se a criança tem uma alimentação saudável, a tendência dela ter um estilo de vida saudável é maior”, explica a professora sobre a importância do conhecimento ofertado na oficina. Cláudia também afirma que a alimentação adequada previne, ao longo da vida, doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.

A estudante de nutrição Fernanda Furtado faz parte do projeto, e enfatiza: “É desmistificar. A gente sempre fica com medo do que dar como alimento para as crianças e aqui as mães ficam mais tranquilas do que dar e da forma como oferecer os alimentos. Além de mostrar que não é tão complexo”.

Já Ana Lídia da Costa, também estudante de nutrição, acredita que a oficina é uma forma de direcionamento: “É de total importância, dá um norte para as mães. Mesmo eu sendo estudante de um curso de saúde, antes de fazer a disciplina eu não tinha noção. Agora eu sei que com certeza a melhor coisa que uma criança pode ter é leite materno e comida de verdade”.

O projeto teve sua origem na necessidade de juntar a teoria produzida na academia, com a prática realizada na cozinha. Além disso, os alunos — mesmo que cientes do conteúdo sobre a nutrição materno-infantil — tinham dificuldade no processo de aconselhar as mães e os pais. Ao buscar uma solução, a professora levou sua aula para o laboratório de técnicas dietéticas e trouxe mães e pais para participarem.

“Eu sempre quis unir a teoria e a prática, e eu via que as mães também tinham dificuldade. Quando a gente orientava na unidade de saúde, elas não conseguiam visualizar. Lá a gente tinha uma cozinha e um refeitório dos funcionários, então, enquanto eu fazia a roda de conversa com as mães no refeitório, os alunos faziam o preparo das papas na cozinha”, comenta a professora. Hoje, esse modelo continua sendo utilizado, sendo a oficina dividida em dois blocos: uma conversa para os pais esclarecerem todas as suas dúvidas e a visita à cozinha para provar os alimentos.

Após a roda de conversa, é distribuído um material elaborado a partir do guia alimentar feito pelo Ministério da Saúde, repleto de informações básicas sobre alimentação infantil. Para as mães, esse material é essencial. Mesmo assim, a maioria delas afirma que o maior problema é o cruzamento de informações entre os profissionais de saúde. Com isso, é comum a confusão na hora de escolher quais alimentos oferecer e de que maneira. Para evitar isso a professora Cláudia Choma aconselha: “A minha sugestão para essas mães é que elas procurem profissionais capacitados, que estejam atualizados em relação aos conhecimentos científicos. O ideal é que todos os profissionais da saúde falem a mesma linguagem”.

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A oficina discute a alimentação para crianças de até 2 anos, sendo possível as de mais de um ano provarem os alimentos oferecidos. Foto: Luísa Mainardes

A publicidade que faz mal à saúde

“É um grande inimigo nosso”, afirma a professora sobre a publicidade da indústria alimentícia infantil. De acordo com ela, essa indústria é bastante atrativa em sua estética, ainda que na sua concepção nutricional deixe a desejar. A NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactantes e Crianças de Primeira Infância, Bicos Chupetas e Mamadeiras) juntamente com a Vigilância Alimentar e Nutricional, são as instâncias responsáveis pelo monitoramento dessas propagandas. Ainda assim, Claudia afirma que as regras já estabelecidas muitas vezes são deixadas de lado.

Além disso, a professora explica que a publicidade consegue vender ideias equivocadas, como, por exemplo, a famosa propaganda que compara o “danoninho” com um “bifinho”. “Hoje não temos mais esse slogan, mas ele ainda é tão forte que acaba se perpetuando”, comenta Cláudia. Sobre os alimentos ultraprocessados — os produtos mais comuns dentro da indústria alimentícia infantil — a estudante de nutrição Ana Lídia brinca: “Se você mostra a lista de ingredientes do alimento para a sua avó e ela não conhece as coisas que têm ali, então não é bom você (adulto) consumir, e isso se aplica ainda mais para as crianças”.

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